Li, no Prosa & Verso deste
sábado, dia 13 de outubro, na página 2 do referido Caderno de O Globo, numa matéria sobre a presença
da literatura brasileira na feira de Frankfurt, a seguinte frase: “Hoje,
autores com menos de 40 anos despertam uma atenção no mercado internacional
inimaginável anos atrás”.
Achei curiosa a afirmação e pensei: será que os escritores – e, por
extensão, a literatura por eles produzida – teriam prazo de validade? Após os
quarenta, tais autores não teriam mais como despertar a atenção de leitores de
outras línguas que não o português?
Será mesmo que um grande número de autores com menos de quarenta tem
facilidade de divulgação de suas obras neste país e lá fora?
Será que a qualidade e a força inovadora da literatura têm a ver com a
idade com que seu autor ou sua autora a produziu?
É claro que não. Inclusive, na referida matéria, há uma fala do editor
John Freeman, que diz o seguinte: “ – A literatura brasileira definitivamente está
crescendo, mas para mim isso não significa que está melhor. A diferença é que
ela tem canais para ser exportada, como o da “Granta” [...]”.
Nada contra as escritoras e os escritores citados na matéria, mas um autor
ou uma autora podem amadurecer com o passar dos anos e com o exercício
constante da arte de escrever. Podem também ver secar a sua inspiração.
Inspiração hoje tão desvalorizada como componente da criação artística, mas tão
fundamental quanto o trabalho de limar a forma e de fazê-la parecer a mais
natural possível ou não (se o escritor assim não a pretender). Ou seja, idade
não tem nada a ver com qualidade literária.
Acerca da maior facilidade de
divulgação no exterior, será que grande parte dos escritores e das escritoras
de nosso país encontra facilidade de divulgação de suas obras até mesmo no
Brasil?
Creio que não e não poderia ser
diferente, pois vivemos em um dos países mais desiguais da muito desigual
América Latina em termos de distribuição de renda e de acesso a direitos
básicos (e não tão básicos) do ser humano. Por que, em termos de literatura,
seria diferente? Não, não é.
Quando penso na matéria do Prosa & Verso, tanto na questão
idade como na questão da divulgação, lembro-me que Machado de Assis publicou na
Revista Brasileira o que foi um
divisor de águas na sua produção literária (e na literatura brasileira), Memórias Póstumas de Brás Cubas, quando
tinha 41 anos. Também, Eça de Queirós, quando publicou pela primeira vez em
livro Os Maias, tinha mais de 40 anos. Tinha 43. A
Ilustre Casa de Ramires e A Cidade e
as Serras nem as chegou ver publicadas em livro, pois tais obras foram
publicadas nesse formato após a sua morte, ocorrida quando o escritor contava
com 55 anos.
Citei esses dois escritores, mas poderia ter citado outros, como José
Saramago, por exemplo, pois tanto Eça como Machado foram, enquanto viviam,
publicados fora de suas pátrias (isso, no século XIX - um projeto da UNICAMP fala sobre a divulgação de livros no século XIX, se eu não me engano, é coordenado pela Professora Márcia Abreu) e continuam a ser divulgados no exterior,
inclusive pelo trabalho de professores universitários brasileiros e portugueses
que dão cursos nos Estados Unidos, na Europa e na América Latina. Também o
crescente estímulo à tradução no Brasil – inclusive com um Programa de bolsas
da Fundação Biblioteca Nacional, a abertura de disciplinas de Teoria da
Tradução em Universidades Federais e a maior mobilidade acadêmica – contribuem para
esse estado de coisas, mas será que isso representa realmente maior divulgação
em termos reais e maior acesso dos escritores e das escritoras nacionais à
divulgação de suas obras tanto aqui como lá fora?