II SEMINÁRIO AUTORES E LIVROS: GÊNESE E TRANSMISSÃO TEXTUAIS[1]
Temos consciência de que a realização de eventos como O II Seminário Autores
e Livros: Gênese e Transmissão Textuais que acontecerá no Instituto de Letras
da UFF, nos dias 1, 2 e 3 de outubro, é muito importante para a Crítica Textual
e para todos os que participaram e que participam na defesa da
institucionalização da Crítica Textual como disciplina obrigatória nos
currículos de Letras do nosso país, disciplina essa que veio a ser obrigatória
nos currículos dos cursos de graduação em Letras da UFF, graças a ação de
Maximiano de Carvalho e Silva, um dos maiores teóricos da Crítica Textual em
língua portuguesa, que, no dia 29 de setembro, lançou uma edição crítica de Dom Casmurro, romance de Machado de
Assis, o mesmo autor que motivou a criação da Comissão Machado de Assis, no
final da década de 50, no Brasil.
A Crítica Textual é disciplina
fundamental tanto para estudos literários quanto para estudos de língua que
tenham textos escritos como suas bases. E o que vemos hoje é que são poucas as universidades
no Brasil que a tem como disciplina obrigatória na graduação e como linha de
pesquisa na Pós-graduação.
Os estudos em que trabalham com textos no Brasil – não só na área de Letras
– precisam da Crítica Textual para serem mais seguros e terem maior
credibilidade e – ouso dizer – terem bases científicas mais confiáveis.
Num tempo em que é tão demandada a presença da interdisciplinridade nos
estudos universitários, a Crítica Textual que, pela especificidade dos
trabalhos desenvolvidos nessa área, trabalha com a interdisciplinaridade e com
algo fundamental para as ciências humanas que é a historicidade, não pode
permanecer nos bastidores da academia.
Sim, passamos por tempos difíceis. Tempos em que não era de bom tom
lembrar que somos seres históricos e que a mudança é a norma enquanto há vida.
A Crítica Textual trabalha com o conceito de mudança e trabalhar com a
Crítica Textual nos faz perceber que tudo muda, até mesmo os textos que são
transmitidos ao longo do tempo.
Hoje vivemos uma época que clama por mudanças e em que o pedido de
mudança vai às ruas e nos chama: vem pra rua vem.
É difícil olhar e não ver. Ouvir e não entender. Basta olharmos para nós
mesmos e para as transformações que ocorrem em nossos próprios corpos ou nos
lembrarmos daqueles que estiveram aqui e não estão mais entre nós.
A mudança é norma na vida.
A Crítica Textual, no seu trabalho de estudo da transmissão textual e no
seu trabalho de edição crítica de textos, nos permite assumir a perspectiva da
mudança e da historicidade.
Neste evento, realizado pelo Laboratório de Ecdótica da UFF, o Labec-UFF,
teremos a oportunidade de entramos em contato com vários trabalhos da área, assim
como com trabalhos que dialogam com a Crítica Textual. Além disso, entraremos
também em contato com depoimentos de escritores e com depoimentos de alunos da
Pós e da Graduação.
Vale lembrar que os trabalhos aqui reunidos nos permitem fazer um passeio
pelos campos da Crítica Textual da Antiguidade até os dias de hoje.
E, se me permitem, vou lhes contar
um segredo: este evento tem início no dia 1 de outubro em homenagem a um grande
amante dos livros que nasceu nesse dia. O nome dele: Plínio Doyle, o fundador
do Museu Arquivo de Literatura Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa.
Plinio Doyle foi um dos criadores dos Sabadoyles, reuniões realizadas em
sua casa, aos sábados, que congregavam escritores, como Carlos Drummond de
Andrade, estudiosos de literatura ou simplesmente pessoas que apreciavam
literatura ou que tinham vontade de conviver com os escritores a que lá
acorriam.
Certa vez, perguntaram a Drummond a respeito da longevidade dos
Sabadoyles e o Poeta respondeu: milagre do Plínio.
Esperamos também que os Seminários de Crítica Textual tenham vida longa.
Que assim seja!
E este seja, nós sabemos, depende - entre outros fatores - da ação dos seres humanos e de cada vez
mais a Universidade assuma o seu caráter de Universidade, conseguindo abrigar
pensamos divergentes, convergentes, na construção da liberdade da busca do
saber e da construção de um mundo mais justo, em que todos tenham o direito de estudar
e de viver.