Recentemente, em setembro
deste ano de 2014, foi publicado Alabardas,
Alabardas, Espingardas, Espingardas, romance que o autor José Saramago, falecido
em 18 de junho de 2010, deixou incompleto. Sobre esse lançamento, saiu um artigo no
número 1147 do Jornal de Letras, Artes e
Ideias, quinzenário português dirigido por José Carlos de Vasconcelos. O
artigo é de Carlos Reis, Professor da Universidade de Coimbra e um dos maiores
estudiosos da obra de José Saramago como também de Eça de Queirós. Pois bem,
esse artigo recebeu o título sugestivo de A sobrevida da palavra e a leitura de
suas páginas faz com que tenhamos mais vontade de ler o novo romance de José
Saramago.
Ainda não li ( vou ler) Alabardas, Alabardas, Espingardas,
Espingardas, mas, acabei de reler a História
do cerco de Lisboa.
Em a História do cerco de Lisboa, além do virtuosismo do estilo do autor
que consegue que tenhamos acesso a imagens sobrepostas e mesmo paralelas em uma
única passagem, nos apresenta tempos históricos que convivem em uma mesma
cidade a partir do exercício de escrita e de elaboração do enredo e da narrativa
de Raimundo Silva, um revisor que se torna escritor a partir de um pedido feito
pela mulher por quem ele se apaixona. A aproximação entre os dois dar-se-á a
partir de um ato ousado do revisor que substitui um sim por um não num texto
sobre a história do cerco de Lisboa que ele estava revisando. O nome da mulher: Maria Sara. Nome esse não
por acaso formado por dois nomes fundamentalmente importantes em duas das
culturas que, juntamente com a muçulmana, conviveram na Península Ibérica durante
muitos anos: a cristã e a judaica. E nesse romance de Saramago ainda podemos
ouvir a voz do almuadem a ecoar na Lisboa moura que permanece na Lisboa dos
nossos dias, basta virarmos uma esquina e termos olhos para vê-la e ouvidos
para ouvi-la. Os tempos, as narrativas, as personagens se encontram numa
convivência hoje construída pelas palavras do autor ou dos autores José
Saramago e Raimundo Silva: Raimundo, Mogueime, Maria Sara, Ouroana e até mesmo
uma outra história, um outro autor e um outro personagem, impossíveis de não
serem lembrados a partir da leitura desse romance de Saramago. Estamos falando
de de A Ilustre casa de Ramires, Eça
de Queirós e Gonçalo Mendes Ramires, em que os tempos se entrelaçam, as
histórias também e, andando no Rio, vejo a cidade com outros olhos.