Em
21 de junho, tem início o inverno no hemisfério sul, assim como o verão no
hemisfério norte. Nessa data, marcada pela promessa de frio, para alguns, e de
calor, para outros, também comemora-se o dia nacional de controle da asma, o
dia da mídia e o dia do intelectual.
Quanto
ao intelectual, entre as acepções dessa palavra, presentes no Houaiss, estão as seguintes:
[...]
que ou aquele que vive preponderantemente do intelecto, dedicando-se a
atividades que requerem um emprego intelectual considerável [...] que ou aquele
que demonstra gosto e interesse pronunciados pelas coisas da cultura, da
literatura, das artes etc. [...] que ou aquele que domina um campo do
conhecimento intelectual ou que tem muita cultura geral; erudito, pensador,
sábio [...] [1]
Podemos depreender pela leitura desse
verbete que o conjunto de pessoas englobado por essa palavra é bem mais amplo
do que creem muitos de nós, mortais. Professores, jornalistas, publicitários,
cientistas, escritores, crítico literários, críticos textuais, estudantes estão
(ou estamos) incluídos nesse grupo, apesar de muitos deles (ou muitos de nós)
não se considerarem (ou não nos considerarmos) como tal. Será por que a palavra
intelectual ainda é marcada pela atuação de escritores que participaram ativamente
na vida pública como era o caso de alguns dos escritores que produziram suas
obras no século XIX? Quando digo isso, lembro-me dos nomes de Émile Zola,
Antero de Quental e mesmo de Eça de Queirós. Também não precisamos recuar tanto
no tempo assim. Basta recordarmos de Simone de Beauvoir e de Jean-Paul Sartre,
dois dos mais engajados intelectuais do século XX. Inclusive, é bom lembrar,
Sartre estaria aniversariando hoje, 21 de junho. Contudo, neste início do
século XXI, a atuação de intelectuais, pelo menos no Brasil, em espaços
públicos e acompanhada pela mídia, encontra-se consideravelmente reduzida e a
imagem do intelectual engajado em lutas sociais também não vem sendo valorizada,
a ponto de escritores e filósofos como Sartre e Beauvoir terem perdido espaço
na academia.
Um dos motivos de os intelectuais
estarem tão distantes dos e silenciosos nos espaços públicos é que a mídia é
bem fechada em nosso país, apesar da Internet que ainda não tem – para a
maioria das pessoas – o mesmo grau de confiabilidade que atribuem às emissoras
de televisão, aos jornais às revistas. Estamos em uma sociedade que valoriza
sobremaneira o espetáculo – o que lembra o título de um livro de Debord.
Infelizmente, o que é referendado pela mídia tem valor substantivo para grande
parte de nós. Para muitos (mas isso, felizmente, vem mudando), tudo que é
veiculado por essas mídias tem status de verdade. Outro motivo é que vivemos
sob o acirramento do capitalismo e do enfraquecimento de (e do ataque a) muitos dos espaços conhecidos
como tradicionais de revindicação. Contudo, pelo menos, desde o ano de 2013,
com as chamadas jornadas de junho, antecedidas, em 2012, pela longa greve dos servidores
públicos – entre eles, professores universitários e funcionários
técnico-administrativos de universidades – a situação vem sendo modificada,
apesar de que muito ainda deve ser feito, para que a imagem do intelectual se
junte novamente a imagem de quem participa ativamente em espaços públicos de
luta. Inclusive, há de se pensar (repensar) a distinção entre trabalho
intelectual e trabalho manual. E até mesmo a Copa do Mundo de Futebol, neste
ano de 2014, vem mostrando, com a vitória de seleções não favoritas, que nada é
impossível de ser mudado. Enquanto há jogo (vida), há esperança: o mundo está assim,
mas não será assim para sempre.
[1] HOUAISS,
Antônio/ SALLES VILLAR, Mauro de/ MELLO FRANCO, Francisco Manoel de. Dicionário Houaiss da língua portuguesa.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
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