sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A história: um caleidoscópio

  


                      

        Recentemente, em setembro deste ano de 2014, foi publicado Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas, romance que o autor José Saramago, falecido em 18 de junho de 2010, deixou incompleto.  Sobre esse lançamento, saiu um artigo no número 1147 do Jornal de Letras, Artes e Ideias, quinzenário português dirigido por José Carlos de Vasconcelos. O artigo é de Carlos Reis, Professor da Universidade de Coimbra e um dos maiores estudiosos da obra de José Saramago como também de Eça de Queirós. Pois bem, esse artigo recebeu o título sugestivo de A sobrevida da palavra e a leitura de suas páginas faz com que tenhamos mais vontade de ler o novo romance de José Saramago.
         Ainda não li ( vou ler) Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas, mas, acabei de reler a História do cerco de Lisboa.
         Em a História do cerco de Lisboa, além do virtuosismo do estilo do autor que consegue que tenhamos acesso a imagens sobrepostas e mesmo paralelas em uma única passagem, nos apresenta tempos históricos que convivem em uma mesma cidade a partir do exercício de escrita e de elaboração do enredo e da narrativa de Raimundo Silva, um revisor que se torna escritor a partir de um pedido feito pela mulher por quem ele se apaixona. A aproximação entre os dois dar-se-á a partir de um ato ousado do revisor que substitui um sim por um não num texto sobre a história do cerco de Lisboa que ele estava revisando.  O nome da mulher: Maria Sara. Nome esse não por acaso formado por dois nomes fundamentalmente importantes em duas das culturas que, juntamente com a muçulmana, conviveram na Península Ibérica durante muitos anos: a cristã e a judaica. E nesse romance de Saramago ainda podemos ouvir a voz do almuadem a ecoar na Lisboa moura que permanece na Lisboa dos nossos dias, basta virarmos uma esquina e termos olhos para vê-la e ouvidos para ouvi-la. Os tempos, as narrativas, as personagens se encontram numa convivência hoje construída pelas palavras do autor ou dos autores José Saramago e Raimundo Silva: Raimundo, Mogueime, Maria Sara, Ouroana e até mesmo uma outra história, um outro autor e um outro personagem, impossíveis de não serem lembrados a partir da leitura desse romance de Saramago. Estamos falando de de A Ilustre casa de Ramires, Eça de Queirós e Gonçalo Mendes Ramires, em que os tempos se entrelaçam, as histórias também e, andando no Rio, vejo a cidade com outros olhos.