terça-feira, 30 de setembro de 2014

UM EXERCÍCIO DE INTERDISCIPLINARIDADE

II SEMINÁRIO AUTORES E LIVROS: GÊNESE E TRANSMISSÃO TEXTUAIS[1]

Temos consciência de que a realização de eventos como O II Seminário Autores e Livros: Gênese e Transmissão Textuais que acontecerá no Instituto de Letras da UFF, nos dias 1, 2 e 3 de outubro, é muito importante para a Crítica Textual e para todos os que participaram e que participam na defesa da institucionalização da Crítica Textual como disciplina obrigatória nos currículos de Letras do nosso país, disciplina essa que veio a ser obrigatória nos currículos dos cursos de graduação em Letras da UFF, graças a ação de Maximiano de Carvalho e Silva, um dos maiores teóricos da Crítica Textual em língua portuguesa, que, no dia 29 de setembro, lançou uma edição crítica de Dom Casmurro, romance de Machado de Assis, o mesmo autor que motivou a criação da Comissão Machado de Assis, no final da década de 50, no Brasil.
 A Crítica Textual é disciplina fundamental tanto para estudos literários quanto para estudos de língua que tenham textos escritos como suas bases. E o que vemos hoje é que são poucas as universidades no Brasil que a tem como disciplina obrigatória na graduação e como linha de pesquisa na Pós-graduação.
Os estudos em que trabalham com textos no Brasil – não só na área de Letras – precisam da Crítica Textual para serem mais seguros e terem maior credibilidade e – ouso dizer – terem bases científicas mais confiáveis.
Num tempo em que é tão demandada a presença da interdisciplinridade nos estudos universitários, a Crítica Textual que, pela especificidade dos trabalhos desenvolvidos nessa área, trabalha com a interdisciplinaridade e com algo fundamental para as ciências humanas que é a historicidade, não pode permanecer nos bastidores da academia.
Sim, passamos por tempos difíceis. Tempos em que não era de bom tom lembrar que somos seres históricos e que a mudança é a norma enquanto há vida.   
A Crítica Textual trabalha com o conceito de mudança e trabalhar com a Crítica Textual nos faz perceber que tudo muda, até mesmo os textos que são transmitidos ao longo do tempo.
Hoje vivemos uma época que clama por mudanças e em que o pedido de mudança vai às ruas e nos chama: vem pra rua vem.
É difícil olhar e não ver. Ouvir e não entender. Basta olharmos para nós mesmos e para as transformações que ocorrem em nossos próprios corpos ou nos lembrarmos daqueles que estiveram aqui e não estão mais entre nós.
A mudança é norma na vida.
A Crítica Textual, no seu trabalho de estudo da transmissão textual e no seu trabalho de edição crítica de textos, nos permite assumir a perspectiva da mudança e da historicidade.
Neste evento, realizado pelo Laboratório de Ecdótica da UFF, o Labec-UFF, teremos a oportunidade de entramos em contato com vários trabalhos da área, assim como com trabalhos que dialogam com a Crítica Textual. Além disso, entraremos também em contato com depoimentos de escritores e com depoimentos de alunos da Pós e da Graduação.
Vale lembrar que os trabalhos aqui reunidos nos permitem fazer um passeio pelos campos da Crítica Textual da Antiguidade até os dias de hoje.
 E, se me permitem, vou lhes contar um segredo: este evento tem início no dia 1 de outubro em homenagem a um grande amante dos livros que nasceu nesse dia. O nome dele: Plínio Doyle, o fundador do Museu Arquivo de Literatura Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa.
Plinio Doyle foi um dos criadores dos Sabadoyles, reuniões realizadas em sua casa, aos sábados, que congregavam escritores, como Carlos Drummond de Andrade, estudiosos de literatura ou simplesmente pessoas que apreciavam literatura ou que tinham vontade de conviver com os escritores a que lá acorriam.
Certa vez, perguntaram a Drummond a respeito da longevidade dos Sabadoyles e o Poeta respondeu: milagre do Plínio.
Esperamos também que os Seminários de Crítica Textual tenham vida longa.
Que assim seja!
E este seja, nós sabemos, depende - entre outros fatores - da ação dos seres humanos e de cada vez mais a Universidade assuma o seu caráter de Universidade, conseguindo abrigar pensamos divergentes, convergentes, na construção da liberdade da busca do saber e da construção de um mundo mais justo, em que todos tenham o direito de estudar e de viver.   

 



[1] A programação completa do evento está em: www.labec.uff.br

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