quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Uma visita a "O Sertão", de João Machado


 Soube, por meio de um post de Simone Brantes, no Face, que Euclides da Cunha será o autor homenageado da FLIP, em 2019.
 Apesar do desânimo que me atingiu nestes dias sombrios, gostei de saber que o autor de Os Sertões terá sua obra mais divulgada e, muito provavelmente, mais lida e estudada. Sim, a literatura também está guardada nos livros, quando eles estão nas estantes, mas ganha asas quando é lida ou contada ou cantada, como no caso dos cantadores do nordeste.
Aproveitei para pegar, na estante, a edição crítica, realizada por Walnice Nogueira Galvão, de Os Sertões: Campanha de Canudos, numa preparação para reler o texto de Euclides da Cunha.
          Coincidentemente, há poucas semanas antes das eleições, fui a uma exposição de fotografias intitulada “O Sertão”, de João Machado, seguindo uma dica da minha filha mais velha, a Izadora, que disse: “ - vai, mãe, você vai gostar, é sobre o sertão, mas o sertão da Bahia”.
        Ela sabe que estou escrevendo um romance que tem alguns capítulos que se passam no sertão. Sabe também que meu pai nasceu no sertão da Paraíba. As fotos de João Machado foram tiradas no sertão da Bahia.  
        Decidi, então, ir até a Caixa Cultural, na Av Almirante Barroso, 25, no centro do Rio.  Lá chegando e antes de entrar no salão que abriga a exposição, assinei meu nome no caderno de visitantes e completei a assinatura com a informação de minha procedência: RJ.
        Quando entrei no salão, comecei a contemplar as fotografias de João Machado, suas cores e símbolos e fui tomada por grande emoção e compreendi na pele o significado especialmente de um trecho do texto de Mônica Maia, que aparece com destaque no salão e que também está no folheto da exposição:

                          Muito se diz sobre
                            a fotografia ser a
                            extensão do olhar,
                           mas aqui estamos
                           diante da imagem como
                           extensão do coração.

      Sim, uma extensão do coração. São imagens quase mágicas, que estão abrigadas no universo da memória que nos envolve em histórias possivelmente contadas de geração a geração e que chegam a nós de diversas formas.
       As imagens, muitas delas, parecem viajar no tempo e ter movimento, numa busca de cada pessoa que as foi visitar. Parece um encontro já marcada para aquele dia e lugar, um lugar que nos transporta no tempo e no afeto. Há poesia naquelas imagens. Há nostalgia, sim, mas esperança pela beleza, grandeza, simplicidade que irradiam. Em uma delas, uma das “Poéticas Noturnas”, o céu parece estar em movimento, naquela noite, em que a casa solitária está a espera de nosso olhar, como o passado, num relampejo benjaminiano. Há ainda a presença do grande São Francisco, de Canudos, de pessoas, de sonhos, de muitas histórias embaladas pelo amor de João Machado pelo pai e pela terra em que nasceu, Xique-Xique, na Bahia. 
     Deixei a sala com um sentimento de plenitude e, antes de sair daquele lugar, voltei ao livro de registro de visitantes, respirei bem fundo e completei a informação de minha procedência com a sigla: PB. Sim, o sertão também está em mim como em muitos de nós que nascemos e/ou que vivemos aqui no Brasil e em outras partes do mundo.
    Ainda há tempo de visitar “O Sertão”, de João Machado. A exposição está aberta ao público, de terça a domingo, das 10 às 21 horas, até o dia 2 de dezembro.

             


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