Neste
Natal, viajei com minhas filhas mais novas para Ouro Preto, terra de muitos
sonhos e projetos de liberdade, para recarregar minha capacidade de ter
esperança.
Definitivamente,
2017 não está sendo e não foi um ano fácil.
Estamos
vivendo os efeitos do golpe.
Direitos
conquistados por trabalhadoras e trabalhadores, após muita resistência e luta, estão
sendo destruídos e ameaçados.
A universidade
pública e os demais segmentos da educação pública, no seu geral, também vêm
sendo impiedosamente atacados. Vejam o que o governo do PMDB (MDB) está fazendo
com uma das melhores universidades do país, a UERJ, que, neste ano, promoveu,
entre outros importantes eventos, a excelente palestra de Boaventura de
Sousa Santos.
Sobre a
maior parte dessa destruição e desses ataques, eles foram e são desferidos por
um governo que não passou pela aprovação das urnas. Um governo que podemos seguramente
chamar de ilegítimo. Contudo, muito recentemente, pudemos ver a gigantesca e
emocionante resistência de nossas irmãs e de nossos irmãos portenhos à tentativa
de aprovação de uma reforma da previdência, na Argentina, pelo governo Macri.
E, hoje, estamos vendo, através da Internet, a continuada resistência dos
argentinos e das argentinas – apesar das poucas notícias que nos chegam da
mídia tradicional, à reforma aprovada à força por lá. Também não podemos esquecer que, neste ano de 2017, houve,
no Brasil, a maior greve geral que já ocorreu em nosso país até os dias de
hoje: a do dia 28 de abril. Além disso, 2017 é também o ano do primeiro
centenário da Revolução Russa, assim como da publicação da segunda edição de Recordações do escrivão Isaías Caminha,
primeiro romance publicado por Lima Barreto, e da primeira greve geral que
ocorreu aqui no Brasil.
Sobre a
Revolução Russa e sua relação com as artes, foram realizados excelentes eventos
como, por exemplo, na Universidade Federal Fluminense, com apoio da ADUFF SSind,
o "Cinema soviético de mulheres", organizado pela professora Marina Tedesco. Houve também, sobre a Revolução Russa, publicações
e a encenação da peça “Dez dias que abalaram o mundo” pela Companhia Ensaio
Aberto, sob a direção de Luiz Fernando Lobo, no Galpão da Utopia, no Rio de
Janeiro.
A respeito de Recordações do
escrivão Isaías Caminha, foi publicada pela EDUSP, uma edição crítica desse
romance. Ela foi organizada por Carmem Lúcia Negreiros de Figueiredo, professora
da UERJ (sim, a UERJ resiste!) e por aquela que escreve estas linhas. Uma de
nossas maiores preocupações foi estabelecer o texto crítico do romance e
divulgar uma nova leitura, feita por Carmem Lúcia, sobre a importância e a
modernidade da obra de Lima Barreto, especialmente do romance em questão. O
evento foi promovido pela área de Literatura Brasileira da FFLCH-USP e
organizado por Ricardo de Souza Carvalho (USP) e Carmem Negreiros
(UERJ/LABELLE) . E não podemos nos esquecer que Lima Barreto foi o escritor
homenageado por uma das feiras literárias mais prestigiosas do Brasil: a FLIP,
que, neste ano de 2017, contou com um um
número expressivo de escritoras.
Sobre a greve geral de 1917, foi
realizado, pelo cineasta Carlos Pronzato, neste ano de 2017, um documentário
que estou com muita vontade de assistir.
E voltando a falar em literatura e em
escritoras, em 2017, aconteceu o primeiro encontro nacional do Mulherio das
Letras, movimento de mulheres ligadas à literatura. Foi em outubro, em João
Pessoa (PB), nos dias 12, 13, 14 e 15.
Não pude participar do evento em João Pessoa,
mas dele participaram muitas escritoras e ele, com toda a certeza, fortaleceu o
Mulherio das Letras a nível nacional.
A ideia da formação do Mulherio partiu de Maria
Valéria Rezende e surgiu da necessidade de modificar o cenário de produção, divulgação e publicação literárias, em nosso país, ainda fortemente marcado pelo predomínio de uma
engrenagem que dificulta a produção, publicação e divulgação da literatura
escrita por mulheres.
O Mulherio hoje conta com quase 6 mil
integrantes e há Mulherio das Letras em várias partes do Brasil e até mesmo
fora do Brasil.
Em 2017, o Mulherio das Letras Rio
também foi constituído e realizou seu primeiro sarau. Foi a partir de um convite
de Ana Claudia Gondim. Participamos de um sarau na feira Molieres, em Paquetá,
no dia 10 de dezembro, coincidentemente, dia do nascimento de Clarice Lispector
e dia internacional dos direitos humanos.
Nesse mesmo dia, houve contação de história para crianças e adultos,
lançamento de livro, exposição e venda de livros e a apresentação do Baque
Mulher que contagiou a todas e todos com muita energia positiva, vital, que
podemos também chamar de axé. Tudo isto antes do Sarau do Mulherio.
Do sarau participaram: Angela Carneiro, Carmem
Moreno, Cátia Moraes, Daniela Ribeiro, Solange Padilha, Cátia Moraes, Carmem
Moreno, Christiana Nóvoa, Daniela Ribeiro, Sol Carvalho, Solange Padilha, Taís
Victa e eu. Ana Maria Santeiro, também do Mulherio, estave presente assistindo
ao sarau.
Foi um momento muito especial, de emoção em
alta voltagem.
Agradeço a todas e todos que contribuíram para
a realização daquele momento e faço votos que aquele seja o primeiro de muitos
e muitos saraus do Mulherio das Letras Rio, que, em 2017, já havia participado
de uma mesa de escritoras, no IV Seminário de Crítica Textual do Laboratório de
Ecdótica da UFF, o Labec-UFF, intitulado: "Autoras, Autores e Livros: gênese e
transmissão textuais". Da mesa, fizeram parte: Solange Padilha, Eliana Mara,
Marta Barcellos e Lucia Bettencourt. Deste evento,
que é realizado anualmente, também participaram pesquisadores, pesquisadoras
ligados à produção ou ao ensino de literatura, assim como a assuntos relacionados
à preservação, recepção e divulgação de textos. Sobre esse evento ligado à
crítica textual, escreverei oportunamente. Digo ainda que o Labec-UFF, iniciou,
a partir de uma ideia de Marcelle Leal, um ciclo de palestras sobre Simone de
Beauvoir, neste ano de 2017, ano em que Angela Davis veio ao Brasil e proferiu
uma importante palestra na UFBA, Tal ciclo sobre a autora de O segundo sexo e outras muitas obras
contou, por exemplo, com a presença de Ronaldo Lima Lins, que, na palestra de
abertura, apresentou um panorama sobre o Existencialismo na França, na Segunda
Guerra e no pós-guerra.
Bem, falta dizer muito mais sobre 2017, mas
agora é época de Natal. Nesta época, costumo lembrar-me de quando eu era criança
e minha mãe me contava histórias sobre uma paz e um amor que se espalhavam por
tudo e por todos os seres viventes da Terra. Hoje, minha mãe não está mais aqui,
mas lembro-me de suas palavras e ainda penso no Natal como uma época que não
condiz com desigualdades, exclusões, fome, exploração nem desespero, nem,
pasmem, consumismo. Aliás, nenhuma época deveria condizer com desigualdades,
exclusões, fome, exploração, desespero e consumismo.
Podemos efetivamente contribuir para que
ocorra uma mudança no mundo em direção a um sistema em que os seres humanos
sejam mais humanos e que o amor e a paz protejam e guardem a vida na Terra. Espero
que, em 2018, mais e mais pessoas acordem para esta necessidade e a arte e a
literatura têm um papel muito importante neste caminho de mudança: o de ajudar
a reinventar a esperança na vida e em nossos semelhantes para que possamos
inaugurar um tempo de verdadeira fraternidade e de verdadeira alegria.
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